Primeiro dia de um congresso de comunicação na faculdade. Antes de começar a programação, uma abertura apresentaria representantes das faculdades participantes. Como em qualquer evento, antes de qualquer coisa, somos convidados a ficar de pé para cantar o hino nacional. 

Sempre gostei muito de cantar o hino, com aquela letra bonita que exalta nossa amada terra e nos faz sentir os melhores patriotas do mundo.

Enquanto decidia se assumia a postura rígida que aprendi durante três anos de colégio militar ou se ficava em uma posição mais relaxada, a minha mente foi vagando pelo atual cenário político. Impeachment, operação lavajato, crise econômica. O cenário estava desgastante. Cantar o hino nacional pensando naquilo era pior ainda.
A poltrona que escolhi sentar estava justamente de frente para a bandeira do Brasil. Mesmo assim, o lugar era favorável para as minhas observações.

Alguns colegas ao meu redor cantavam o hino bravamente e orgulhosos, com a mão repousada no peito. Ò pátria amada, idolatrada, salve! Salve? Isso mais parecia um grito de socorro da nação brasileira. Grito que ninguém conseguia ouvir, ou fingia que não estava ouvindo aquele som que saia de suas próprias bocas.

Na mesa de representantes, um professor sério e calado. Não cantava nenhum trecho do hino e a letra não parecia ser o problema. Aquilo chamou a minha atenção. Não lembro seu nome e nem a roupa que usava, mas sua expressão facial me marcou. Aquilo parecia uma forma de protesto, de luta.

Naquele momento eu já nem me lembrava em que refrão estávamos cantando, só acompanhava automaticamente aquele hino que sabia cantar de cor. No fim houve palmas. Não sei pra quê e nem pra quem. Pra mim isso é sinônimo de desrespeito. Pra galera ao meu redor, aplaudir o hino nacional era motivo de orgulho. De quê? Não sei, ainda estou tentando descobrir.


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